terça-feira, 29 de junho de 2010

APRENDENDO PROPAGANDA DESDE 1960

Por : Raymundo Cardoso

Desde 1960 que estou aprendendo propaganda. Após fazer uma viagem no meu passado profissional colhi uns lances porreta: Em 1973 de passagem em Vitoria com o extinto Jornal da Bahia e a revista Estados e Municípios do Rio de Janeiro, faturando para o jornal os municípios do sul da Bahia que não era simpático ao falecido ACM, pois o mesmo, durante seu governo, em cadeia de TVs falou: quem inserir alguma coisa neste jornaleco não conte com o meu governo, o jeito era buscar tutu no interior, e a revista era livre, tentei faturar a prefeitura de Vitoria e recebi um NÃO do então prefa Crisógono Cruz.

Fui apresentado ao grande Cariê e acabei ficando em Vitória por dois motivos: amarrei-me com a cidade e estava descasado, tinha que mandar a dor para aquele lugar.

O PRIMEIRO A CORES

Primeiro anuncio a cores do jornal A Gazeta, aniversário da Rua Sete de Setembro, (época de ouro) em 1987, no dia primeiro de setembro. Está arquivado.

Foram 61 lojas, desfiles de moda, de óculos, calçados e outros. A Gina Abrahão (comerciante na época) deu a maior força nos desfiles, tive o apoio do nosso amigo o ótimo Gilson Lourenço com sua equipe do setor de arte do jornal. Foram as duas páginas do meio, também tive o apoio do amigo Ernani Buaiz que na época era Relações Publica da Escelsa e cedeu a grande escada para foto feita por Gildo Loiola, que estranhou o horário, 12:30, hora de grande movimento, foi a maior confusão e teve até engarrafamento no trânsito e ouviu-se muitos com palavrões dos mais exaltados com a bagunça criada, e este era o meu objetivo afim de provocar curiosidade, altos comentários e por aí. O nosso Hélio Dórea deu a maior força, ele era o gerente comercial da Gazeta.

RADIO E TV VITÓRIA - Diários Associados, Rede Tupi. 1975

O saudoso Xerxes Gusmão era o diretor de propaganda e me admitiu como contato. Tenho guardada até hoje a carteira de contato assinada por ele.

Aproximando-se o Dia das Mães tive a idéia de fazer uma grande promoção com a a mãe mais jovem, a mais idosa, a mãe solteira, e a mãe com mais filhos.

Foram distribuídas senhas e as que tinham a senha e se enquadrassem nas exigências acima receberia brindes ofertados pelos patrocinadores que eram no total de 16. A fila estava quase na catedral, em pleno domingo e no programa extra do saudoso Nilton Gomes já que seus programas eram de segunda a sábado.

Foi uma coisa de louco, o Magno Teles e o Osvaldo Amorim não sabiam o que fazer, faltou brindes, inclusive iniciou-se um principio de quebra-quebra e foi necessário chamar a polícia pois, já tinham quebrado o vidro da portaria do Edifício Moisés na Avenida Jerônimo Monteiro. O Zanotti teve que pedir mais brindes aos patrocinadores e no final deu tudo certinho. Não posso deixar de citar a participação do grande Olívio Cabral que já não está mais entre nós


COMERCIAL NA 5 PONTES – UMA AVENTURA

Era uma produção em KROMA KEY para o cliente Rosas Moda International, era a moda chegando a Vila Velha e eu precisava da ponte vazia, lembro que o câmera era o Oliveira, da TV Gazeta.

Cheguei na guarita e falei com o chefe do posto da polícia militar que era um Sargento:

- Eu: Sargento, a ponte está para cair, é o boato por ai, precisamos dela vazia.
- O sarja indaga: A esta hora? (entrei com o papo de que iríamos fazer uma entrevista com ele).
- O sarja vaidoso pergunta: estou barbudo?
- Eu lhe respondi na hora: Tá legal meu bom sarja. Ele empolgado manda os soldados fecharem a ponte para dar a entrevista.

Foi o maior rebu, eram 14 horas de uma sexta-feira, altas broncas, buzinas por todos os lados, e como é que é? Foram 45 minutos de fechamento da ponte e só não aconteceu a entrevista, em seu lugar entrou a claquete: Rosa Vila Velha.


O GUINDASTE

A onda era o guindaste que vinha e tirava do navio um caixote grande “digdigdigdig” quando chegava ao piso “TUMMMMM”, explodia e apareciam os manequins dançando. Era a moda chegando em Rosas Moda.

Fui obrigado a assinar um termo de responsa, pois, era na época da ditadura militar e tinha federal por todos os cantos, um verdadeiro exército de olheiros, o nosso Judson com o lápis batendo nos dentes estava pálido e tremia como vara verde. Era o receio de não dar certo, ele era o gerente da Central de Produção de Comerciais da Gazeta, a CPC, mas no final deu tudo certinho e o nosso Judson ficou vermelhão, mas de satisfação. O guindaste foi uma gentileza do Dr.Jacob Ayub, à época o presidente da
Codesa . A claquete foi: Rosas Caixote. Tenho até hoje o arquivo da TV Gazeta em VHS.




SE NÃO TIVER RETORNO NÃO PAGA

A ÓTICA

O anunciante deste episódio tem hoje 7 lojas, é uma Ótica. Fiz um trato de assinar por ele, como desafio, porque ele achava que propaganda era supérfluo.

A peça era um jogo de três slides a ser veiculados no horário nobre. Já no segundo dia de veiculação ele me ligou às 22.30 horas e disse: Cardoso, propaganda é um negócio sério, não temos tempo nem de almoçar, passe aqui amanhã. Passei e assinamos um contrato com duração de um de ano.

Estão comigo há 28 anos, já nos separamos três vezes, é namoro antigo estamos firme.

O SUPERMERCADO

O cliente liga preocupado e me diz: Cardoso o comercial vai entrar a noite e a oferta do jogo de panelas já acabou, o que é isto?

Foi o que aconteceu com o supermercado: a bonificação, pela regra, é inserida após a programação, mas dessa vez a boni entrou a tarde no “vale apena ver de novo” , pois, foi o único encaixe para este dia.

Deu no que deu, o anunciante teve que arrumar 2 caminhões de ultima hora com os produtos, e os cliente fizeram reservas.
Obs: o meu contato de apoio na TV Gazeta era a Angélica.


HOMÓFONA*

Perguntei ao meu amigo cliente qual das lojas era a lanterninha de vendas, disse-me ele ser a da General Osório.

Então comecei a pensar como atrair o cliente. Lembrei-me das palavras homófonas e taquei no endereço da loja,em destaque, Osório com Z. Tinha gente que chegava para comprar e perguntavam se Osório era com Z ou com S. Deu certo, morou?
Esta papelaria ganhou em 2009, pela sexta vez, o prêmio Recall da Gazeta.

* palavras de pronúncias iguais.


MUTIRÃO DA ECONOMIA

Foi na época do Sarney, a inflação alta, as vendas baixas. Como estava em moda os mutirões, bolei então o mutirão da economia. Os lojistas unidos no combate a inflação afim de incrementar as vendas em curto prazo, desenvolvendo o mercado consumidor que na época se encontrava em franca expectativa.
Era um cooperativado de lojas da Rua General Osório, quando lá tinha muitos estabelecimentos de confecção e guarnição. NO ALVO!!!

Fiz então a viagem nas ruas Pinto Paca, Expedito Garcia e em Vila Velha. Foi um tal de botar pra fora os encalhes na TV Gazeta que vocês nem imaginam.

Também tenho em VHS esse arquivo da TV Gazeta, o cameramen Oliveira lembra dessa história e deve ter arquivo na TV gazeta.

Sou Soteropolitano, vou a salvador 2 ou 3 vezes por ano para rever amigos da velha guarda como também meus familiares, e numa roda, entre papos e goles comentei sobre os mutirões. Tempos depois, apareceu Liquida Salvador e por aí.


O INÍCIO

Comecei no jornal A TARDE de Salvador, o meu mestre foi CLODOMIRO DE CASTRO, diretor comercial e professor, também havia um anexo da igreja de São Francisco nos fundos que dava para a Baixa dos Sapateiros editora e livraria da igreja, no comando o professor de propaganda Frei Gaudêncio, eu freqüentava as aulas que eram 3 vezes por semana com 2 horas de duração cada. Então fiquei cercado de mestres, o frei ofertou-me o primeiro livro escrito e editado em português, que é o resumo do curso por ele ministrado e tenho guardado até hoje, como guardei também o dicionário da propaganda ofertado pela NESTLÈ e o livro Elementos da Propaganda escrito pelo Caio Domingues, é uma jóia rara.

O Brasil ainda começava a andar na propaganda. Sou do tempo que se escrevia MIDIA com E, a grafia usada era MEDIA.

Fui “media” em boas agências e a minha função era contatos com os veículos, para a compra de espaços e por aí.

A Nestlé e a Igreja davam muita força nesta área, a maior agência de propaganda é o Vaticano, sempre.

Trabalhei comoi media das agencias: Chama Propaganda, fundada pelos irmãos Brin Filho e Lia Mara, hoje a Chama é de J. Randam. Passei também pela Maricesar do Elias Sobrinho, a Ética pertencente aos Meira e Aguiar, depois voltei para a Chama que havia juntado com a JS gravadora, e o nosso Gilberto Gil era quem bolava os jingles, era uma onda!

Os honorários de Agência eram de 16,75%, a profissão não era regulamentada, foi criada pela lei 4.680 de 18 de junho de 1965.

Passamos a existir graças ao regime militar, foi uma das coisas boas da época como também foi a extensão do mar territorial para 200 milhas náutica, onde está o nosso petróleo, morou?
Na minha época a grande PROPEG do Rodrigo Sá Meneses estava nascendo, também tive a minha falecida agencia EUREKA isto mesmo! Eureca com K.

È pena que somente 2 laudas e meia não dá para eu me exibir, ta? Tenho muita historias que dão até pra dormir.

Não lapidei o escrito, tá? Neste momento, 3 horas da matina, com uns uísques na cabeça posso ter esquecido algo, peço aos nossos companheiros que não reparem e se acharem algum erro, lapidem ta? Vou apagar.

OBS 1: Que tal em vez de reclame, CHAMARIZ???

OBS 2:Tenho todos os documentos dando veracidade da minha bagagem .

Raymundo Sá Cardoso, Vitória, ES, 05/06/2009

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A COMUNICAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO

Por: Márcio Lobato


“Os anos 70 foram fundamentais para a comunicação no Espírito Santo, principalmente para a publicidade. A UFES dá início ao curso superior de Comunicação Social, onde o saudoso Xerxes Gusmão Neto ministra a matéria Publicidade e Propaganda, única para a área no currículo do curso. Quase que paralelamente, é lançada a TV Gazeta, afiliada à TV Globo, que muda totalmente a forma de se fazer comunicação no Espírito Santo, antes restrito aos jornais, rádios AM, TV Tupy – canal 6 (antiga emissora dos Diários Associados, que não tinha a menor preocupação com a qualidade de imagem e do som exibidos). Dá-se, nessa época também, a interiorização do sinal da televisão, antes restrita apenas ao que hoje se chama Grande Vitória.

As agências de publicidade não eram muitas e sofriam com a falta de anunciantes e veículos. O Governo Élcio Álvares, numa decisão salomônica, incentivou a criação do Consórcio de agências, minimizando as brigas e possibilitando o investimento em estrutura e profissionais. Só a Eldorado, trouxe para o estado, nessa época, entre outros, Sérgio Dória (SP) e Maria Ribeiro (RS), fortalecendo a área de criação da agência, para a Uniarte veio o Ronaldo Alvim (SP), entre outros.

A TV Gazeta, manda para a RBS, no Rio Grande do Sul, sua equipe de atendimento, formada por José Antônio Neffa, Augusto César da Rocha e Danúbio Bezerra, com este último dando lugar depois ao Heitor Nogueira. Começava aí a profissionalização das relações agências-veículo-anunciantes.

Tudo ainda era muito difícil. Um roteiro ficava dez dias na Polícia Federal para ser aprovado ou não pela censura. Ou era VT de cartela, slides (table-top) ou filme 16mm, preto e branco, com todas as dificuldades de revelação e montagem próprias. Quer dizer, entre a aprovação do cliente e a efetiva veiculação, se não houvesse nenhum problema, independentemente se era material institucional ou varejo, se levava pelo menos 20 dias. Com a chegada dos VT’s Quadruplex, mesmo com o peso excessivo do equipamento, começava a ficar mais fácil captar imagens e editar. Profissões hoje comuns como diretor de cena, diretor de fotografia, produção de set, compositor de trilha, não existiam ou não eram usadas. A edição era limitada aos recursos das mesas de edições. Aqui abro um parêntese para me lembrar de duas pessoas que muito ajudaram a melhorar os comerciais eletrônicos, Arnaldo “Famoso” – um mágico da luz e Ubirajara Pinto, o Bira, que com sua paciência e dedicação, ensinou a muita gente e encontrou soluções que pareciam não existir. Ambos oriundos da TV Globo e do quadro inicial da TV Gazeta.

Na área gráfica, também não tinha moleza. Tudo era montado na prancheta ou com letraset (para os mais novos, folhas com letras e símbolos gráficos, com pouquíssimas opções de fontes, que eram decalcadas uma a uma na arte, comercializados em papelarias) ou então foto letra (encomendadas no Wagner, com maior variedade de fontes e tamanhos, mas que exigia um tempo a mais, já que eram feitas – fotografadas e copiadas – de acordo com o pedido do cliente). Daí mandava-se fazer o clichê no Hans ou o fotolito.
O rádio era o meio de comunicação mais abrangente e com o maior número de profissionais (locutores e operadores) e de anunciantes. Programas como Jairo Maia (que ainda era dono da discoteca do mesmo nome no Parque Moscoso), Ronda da Cidade, Castelo Mendonça, Hora do Almoço eram sucesso de público e de venda. Não se pode falar aqui de audiência porque não tinha nenhuma pesquisa. A comercialização de espaço de qualquer veículo se dava mais pela amizade e presença política de quem oferecia do que pelo retorno do investimento e muitas vezes, a compra dos espaços era efetuada porque era o programa ou o jornal que o anunciante via/ouvia/lia.

As maiores agências daquela época eram: Eldorado, Uniarte, Meta, Objetiva, Tema.

Os maiores anunciantes: além do Governo do Estado e Banestes/Bandes, eram Casas Eduardo, Casas do Anzol (de Colatina), Fokus, A Esportiva, Supermercados Santa Martha, Calçados Itapuã, Supermercados Boa Praça, Prefeitura de Vitória, Distribuidora Mercantil, Corretora Lima e Lima, Caderneta de Poupança Tamoio, Acta Engenharia e a Mesbla.

A Fokus tinha um comercial que até hoje é exemplo de eficiência, criatividade e simplicidade: era um toca disco, rodando um disco de vinil. O braço se movimentava e quando a agulha tocava o sulco do disco, a locução dizia: Fokus – especializada em som. Sobrepunha a logomarca e endereço. Tudo isso em um só plano e em 15 segundos.

Vendo hoje a produção/edição de um comercial nas modernas ilhas digitais é que tomo consciência do quão trabalhoso e criativo era fazer televisão. Um insert era trabalho para horas e envolvia vários profissionais. Para dar movimento a ele, então, nem se fala.

Tinha que se queimar fosfato e ir à tentativa do erro/acerto. Um texto falado diante das câmeras tinha a necessidade de usar a famosa “dália”, uma folha de cartolina contendo o texto a ser lido. Os créditos dos telejornais eram montados em letraset sobre o papel carbono extraído da folha dupla de papel do telex ( o precursor do msn) e aí montados numa traquitana que mais parecia uma carretilha, para alguém rodar no tempo exato destinado a ele e num mesmo ritmo. O croma-key só era recortado em preto. Era tudo manual e dependente do homem.

A TV Vitória/Rede Tupy, tinha alguns programas de auditório comandados por Jadyr Primo, Nilton Gomes e Carlos Alberto de Oliveira, só para citar alguns. Mas com produção precária e transmissão idem.

Com a criação da TV Gazeta/Rede Globo, foram realizados investimentos para a estruturação da produção de comerciais (a extinta Central de Produções Comerciais) e para os programas jornalísticos. É dessa época o programa Jornal do Campo, idealizado pelo jornalista Ronald Mansur, que antecedeu à criação do Globo Rural e serviu de referência para o mesmo.

Nos primeiros anos da década de 80 coube a Amylton de Almeida dar visibilidade à nossa produção local de televisão com o documentário “Lugar de toda pobreza”, o famoso vídeo-denúncia que mostrava homens e bichos brigando pela sobrevivência no lixão do bairro São Pedro. Foi premiado pela TV Globo.

Em 1984, o Grupo Buaiz compra de João Calmon a TV e Rádio Vitória e troca a programação da TVS (ex-Tupy) pela programação da Rede Manchete. A TVS (hoje SBT) passa então a ser transmitida pela TV Tribuna, do Grupo João Santos. A TV Vitória começa a investir na qualidade do sinal e na programação local, com o Jornal do Povo, cujo apresentador e responsável era o Oswaldo Oleari e com programas de debates que tinha como mediador o Luiz Eduardo Nascimento.

Hoje, são dezenas de programas produzidos nos mais diversos canais de televisão, sem nada desmerecer aos programas produzidos pelas cabeças de rede. A tecnologia que elas usam lá, também usamos cá. Centenas de empregos foram criados. Profissionais se especializam e abrem novos nichos de mercado. A pesquisa de audiência é ferramenta básica para se programar um anúncio e garantir o retorno do investimento do anunciante. O que hoje parece óbvio e fácil foi fruto de muita luta e o melhor é que todos ganharam: os empresários do setor de comunicação; os profissionais envolvidos nas mais diversas etapas das agências, veículos e produtoras; os anunciantes que reduziram seus riscos e principalmente, os leitores, ouvintes e telespectadores de qualquer canto do Espírito Santo que usufruem da democracia tecnológica, da profissionalização da nossa comunicação e da qualidade do que aqui é produzido e dos nossos veículos (com o advento da internet e TV digital o Espírito Santo largou na frente de muitos estados teoricamente mais poderosos).


NB: A memória do Márcio traz à lembrança nomes de pessoas que já não se encontram em nosso meio mas foram profissionais que prestaram imensa contribuição ao mercado seja trazendo novas técnicas comerciais, seja inovando a linguagem, cada um a sua maneira deixou uma marca indelével na história da comunicação do Espírito Santo.
Com muito orgulho pude conviver e aprender os ensinamentos de Mestres como Xerxes, Sérgio Dória, Bira, Amylton de Almeida e o “imperdível” Luis Eduardo Nascimento.

domingo, 6 de junho de 2010

UM ARGENTINO "BONISSIMO" : ANGEL ALÉN

Por: Angel Alén

Vejam que história interessante a do Angel, vale muito uma leitura.

"Durante a ditadura militar na Argentina era muito difícil trabalhar, havia muito desemprego e a repressão era grande.
Eu trabalhei como Diretor de Arte e Criação e fui sócio de um Estudo Gráfico chamado “Estudio Cavallero”, durante 10 anos, no centro de Buenos Aires.
Formei-me Publicitário e em Desenho Gráfico na “Escuela Panamericana de Arte”, em 1965. Trabalhávamos com grandes clientes como: Coca Cola, CBS Columbia, Rasti, Knittax, Griferias FV, Cristalerias Rigolleau, Helena Rubinstein, Clairol e muitos outros.
Chegou o plano econômico chamado “Rodrigazo” com um brutal reajuste que duplicou os preços e provocou uma crise terminal no governo de Isabel Perón que marcou o declínio definitivo do governo constitucional e a chegada da ditadura militar. A maioria de nossos clientes fechou as portas, levou as fábricas para o Brasil ou voltaram para a Alemanha. Fomos obrigados a fechar as portas também.
Foi aí que sai de Buenos Aires à procura de novos horizontes e, acreditando muito no desenvolvimento da economia e no futuro do Brasil parti para lá. Eu estava com 33 anos quando cheguei a Vitória, após 3 dias de viagem de ônibus desde Buenos Aires, em fevereiro de 1980, desembarquei ainda de madrugada na pequena Rodoviária de Vitória, toda alagada e debaixo de muita chuva, sem conhecer a ninguém, sem falar uma palavra em português, com pouca roupa dentro da pequena mala e pouco dinheiro também. Só tinha um número de telefone de uma amiga que conheci um ano antes aqui em Vitória, quando trabalhava como mecânico em um Navio da Marinha Mercante Argentina. Consegui encontrar-me com ela e fiquei hospedado na casa por dez dias. A minha idéia era ficar no máximo 15 dias em Vitória e ir subindo para conhecer Salvador e mais tarde ir definitivamente à procura de trabalho em alguma Agência de publicidade de São Paulo.
Com meu portfólio embaixo do braço comecei minha peregrinação aqui em Vitória em busca de trabalho. A primeira Agência que visitei foi “Eldorado Publicidade” na época de Sergio Doria Ribeiro. Em seguida procurei a “Meta Propaganda” e mais tarde a “CPA” do Cabideli*, até chegar na “Profissionais da Propaganda” onde fui entrevistado por Gonzalo Bregón Esteban que me aconselhou a não ir para São Paulo, pois lá, seria engolido por ser uma cidade grande, e, já que eu não falava português, seria melhor começar a trabalhar em uma cidade menor como Vitória.
Gonzalo me enviou para outra Agência chamada “Propaganda Objetiva” de Roicles Coelho, pois estava precisando de um diretor de arte. Quando eu falei que fui enviado pelo Gonzalo. Roicles começou a rir e me contou que tinha há tempo desfeito a sua sociedade e que eles nem se falavam.
Naquele momento fui muito bem recebido por Roicles e Marilia. No dia seguinte fiz um teste e gostaram do meu trabalho. Comecei a trabalhar como diretor de arte, tendo gente de grande valor como Fausto Aguiar, Antonio Falcão, Rachel Valdetaro Queiroz, Roberto Rosa e muitos outros que passaram pela Agência. Roicles me alugou uma pequena kitchenette pertinho da Agência e dava para ir a pé.
Por eu ser estrangeiro e ter que sair do país a cada três meses, ir até Buenos Aires e voltar foi feito um contrato de trabalho. Os dias que não trabalhava eram compensados com horas extras, trabalhando feriados, sábados e às vezes domingos. Assim se passou mais de um ano. Nesse tempo eu conheci Fátima Fraga e fomos morar juntos. Gonzalo estava deixando a sociedade que tinha com Amauri e Helena, na Agência Profissionais da Propaganda e nos procurou várias vezes para montar outra Agência de publicidade.
Foi assim que Gonzalo, Fátima e Angel criaram em 1981 a Publicitários Associados. Fátima alugou uma sala com telefone no Ed. Jusmar, com o dinheiro que tínhamos para pagar o aluguel do nosso apartamento. Não tínhamos móveis, Gonzalo entrou com uma mesa, um tablado e uma cadeira e eu levei uma prancheta de desenho e uma banqueta que tinha em casa, só isso, mais nada.
Gonzalo conseguiu um anúncio, pequeno, de pisos da Pianna para jornal A Gazeta.
A Fátima conseguiu o cliente Marcelo Abaurre, fizemos a logomarca e a programação visual com o famoso gato preto do Armazém. Um dia Fátima entrou na Agência muito feliz e jogando para o alto, todo o dinheiro que foi pago à vista. O dinheiro do primeiro aluguel estava garantido. Fátima Fraga logo saiu da sociedade.
A logomarca da Publicitários Associados era 3 bonecos de mãos dadas, representando a Fátima, Gonzalo e Angel. Com a saída de Fátima, a nossa logomarca foi alterada novamente passando se a chamar “Gonzalo & Angel / Publicitários Associados”, mais mantivemos os três bonecos.
O primeiro prêmio que ganhamos foi “ O Premio Colunistas” para a Região Sudeste. Apresentamos uma mala direta da própria Agência com o título “Se dizia médico e não era médico: tá preso! Se dizia publicitário e não era publicitário: tá ganhando dinheiro! O texto de Gonzalo e a ilustração feita por mim toda em nanquim. Era um lobo com uma mascara de cordeiro. Foi uma denúncia para as Agências de publicidade que existiam no mercado Capixaba na época.

Por nossa Agência passaram grandes publicitários que até hoje continuam no mercado. Era uma das mais criativas e dinâmicas no Espírito Santo. Atendemos-nos grandes contas como Irmãos Pianna, Sorvetes Luigi, Imobiliária Patrimônio, CIEC, Vimcap Imobiliária, Autovidros, Artepedra, Plumatur Turismo, Meaípe Imobiliária, Start–Processamentos de dados, Citur–Turismo, Centro da Praia Shopping, Clube Ítalo Brasileiro, Viação Alvorada, VSD, Elias Miguel, Lojas Armazém, APES – Associação das Agências de Propaganda do ES. CEAG, Comex e Cooperativa Agrária de Colatina.

Grandes campanhas de varejo para Pianna e Luigi, foram feitas, com todos os produtos desenhados à mão, ilustrações em nanquim, porque os clientes não queriam pagar fotos, achavam muito caro. Iniciávamos numa quinta-feira para entregar os anúncios de página inteira no sábado de manhã no jornal, virando noites sem dormir. Quantas vezes ficamos dentro dos fotolitos da Studioletra do Wagner ou no próprio fotolito de A Gazeta, vendo o sol nascer para fazer os fotolitos, mascaras, retículas para ficar prontos e poder sair publicado no jornal de domingo. E sempre dando conta do recado.
Fazíamos os outdoors, todos desenhados e produzidos dentro da Agência. As 32 folhas pintadas uma por uma. Teve uma campanha de outdoor da Luigi, que levou 19 cores diferentes e foram produzidos no total 20 outdoors, para a inauguração da loja do centro da cidade, na Rua Gama Rosa, antigo “Britz Bar” (famoso reduto da boemia capixaba, por muitos anos). Dia e noite trabalhando, preparando tintas e pintando. Era uma loucura, muito trabalho por pouco dinheiro, para poder manter o cliente satisfeito.
Muitas logomarcas e programações visuais foram criadas e até hoje estão no mercado como Autovidros e Plumatur.
Fomos também uma das Agências de Publicidade a criar a APES – Associação das Agências de Propaganda do Espírito Santo no ano de 1983, uma luta travada pelos profissionais da época como: Amauri Parreira, Takashi e Massaru Sugui , Roicles Mattos Coelho, George Bonfim, Wilson Lázaro, Fernando Manhães, Antonio Carlos Barbieri, e outros que não me recordo no momento.
Foram muitos anos de trabalho e aprendizado com Gonzalo. Após 5 anos exatos de sociedade, vendi a minha parte da Agência para ele.
Parti para abrir a minha própria Agência e montei a 3 Pontos Propaganda que esta no mercado desde 1986. No inicio fiz sociedade com Jorge Gomes Araujo e logo em seguida entrou em seu lugar a Fátima Fraga, minha esposa, até os dias atuais.
Desde seu início a 3 Pontos atendeu diversos clientes dentre os quais o Armazém, Prefeitura de Aracruz, Papelaria Moderna e Cordeiro, Atacadão Moderno, Center Color, Naval Consult, Presmart e Interport Serviços Marítimos, Projur e Sejur Serviços Jurídicos, GDL Consultoria Naval, Bitti Imóveis, Viação Águia Branca.
A partir de 1987, começamos a crescer atendendo clientes de varejo com 12 lojas da Moveline. Atendemos a Indústria de Móveis Movelar por mais de 5 anos. Criamos sua logomarca e fomos os pioneiros em fazer os catálogos de móveis no formato revistas que mais tarde todas as indústrias de móveis copiaram. Atendemos durante 3 anos a VSD de Valdomiro Santos Dadalto., as indústrias de móveis Rimo, Docelar, Divilar e Panan.
A maioria de nossos clientes era de Linhares. Viajávamos 2 ou 3 vezes por semana ou ficávamos em hotel para não ter que voltar para Vitória e poder atender todos os clientes da região.
Nosso mais antigo cliente é a Brazshipping Marítima, Agência marítima de importação e exportação ¬com mais de 20 anos no mercado, começamos com eles desde a criação da logomarca e o primeiro folder de formato A4 com 2 dobras e continuamos atendendo até hoje, com 20 filiais em todo Brasil e mudando o nome para LBH Group Brasil, com filiais em 20 países.
Por mais de 5 anos a trabalhamos com a Cimol e Moverama em Ferias de Móveis por todo o Brasil, introduzimos as estandes com pé alto e grandes mezaninos.
Ensinamos como fazer propaganda a nível nacional e para exportação. Acontece que a maioria das indústrias capixabas, uma vez que chegam ao topo de vendas ou crescem demais, começam renovando todo o parque industrial, ampliando as suas plantas industriais.
Desligam-se ou abandonam, de um dia para outro, suas Agências de propaganda sem dar uma satisfação, e partem para montar “houses” dentro das próprias indústrias, achando que estão economizando dinheiro e que podem continuar por inércia. Assim temos hoje várias indústrias em dificuldades o a caminho de ser mais uma no mercado, trabalhando no vermelho, por não aceitar o assessoramento e o trabalho de uma boa Agência de propaganda do Estado."


NB: Edgard Rangel Cabideli foi um dos brilhantes publicitários que ajudaram a formar esse marcado, exerceu diversas funções públicas, foi Secretário Estadual de Comunicação, passou pela CONAB, militou na política como fiel escudeiro de Gerson Camata, foi até proprietário de restaurante. Uma pessoa polêmica, mas de uma honestidade e sinceridade admiráveis. Cabideli não mandava recado. Quem não o conheceu perdeu uma grande oportunidade de se relacionar com uma boa pessoa.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

NOSSO COLIBRI

Por: Cacau Monjardim

Trouxemos da nossa experiência como jornalista que exerceu na mídia as mais diversas funções, uma verdadeira paixão pela propaganda, o que nos permitiu representar como redator durante anos a Revista Propaganda, à época uma bíblia dos publicitários do país.
Foi esta identidade que justificou a criação da Seta Propaganda, que ao lado da Eldorado Publicidade, foi responsável pela modernidade e pelos conceitos técnica impostos ao jovem mercado.
Com esta afinidade e com o respaldo de nossa passagem dinâmica pela mídia, em variados segmentos, chegamos pela primeira vez à elevada função de Secretário de Estado da Comunicação Social.
Em 1986, como Secretário, nos empenhamos para dar uma nova configuração ao relacionamento Governo-Mídia, introduzindo critérios abertos e profundamente profissionais a estrutura da comunicação oficial.
Nascia com determinação à idéia de criar um prêmio que pela sua importância para a criação e o desenvolvimento da publicidade capixaba, sustentasse o objetivo de emprestar ao processo de divulgação do Estado, nos segmentos públicos e privados, um ar de modernidade e, sobretudo, uma imagem que traduzisse o verdadeiro estágio de criatividade e competência de nossos profissionais.
Convidamos dois publicitários, que dirigiam com autoridade duas das principais agências daquela época e colocamos nas mãos da Associação que eles representavam a sugestão do prêmio “Colibri de Ouro” e a responsabilidade pela elaboração de um regulamento e dos critérios que deveriam presidir o evento. Nós garantimos a oficialização do prêmio em decreto do Governo e também a cobertura de todas as despesas necessárias à viabilização da importante iniciativa.
Passados tantos anos o prêmio considerado e respeitado pelo mercado nacional, ostenta o título de maior e mais tradicional prêmio da propaganda regional.
No entanto, apesar desta bagagem de sucesso, a atual direção da Sinapro/ES tentou mudar o “colibri”, chegando a sugerir uma nova composição artística para o aplaudido símbolo. Fomos contra e seremos, sempre, contra esta inoportuna e injustificável postura. Chegamos a manifestar a nossa opinião, afirmando que se fosse mudada a imagem e o porte artístico e profissional do “colibri” que o fizessem, trocando-o por um avestruz.
Prevaleceu o bom senso. Uma comissão indicada pela Sinapro resgatou a maioridade do prêmio, decretando a permanência do velho, arisco, suave, doce e brilhante “Colibri”, um orgulho dos publicitários capixabas.
Anuncia a Sinapro/ES que ele terá um parceiro, o “Colibri Nacional”, com vida e regulamento próprios. Torço para que o velho e o novo, cada um no seu segmento, sejam irmãos siameses, em termos de criatividade e bom senso.
J.C. Monjardim Cavalcanti é jornalista, ex- Secretario de Estado de Comunicação e Diretor da Fundação Jônice Tristão

NB: Alguém sabe explicar porque se mudar algo consolidado, de sucesso e respeitado como é o Prêmio Colibri?

COLIBRI DE OURO

Por: Amauri Martins Parreira

"O Cacau Monjardim, é um grande admirador da boa propaganda e também uma figura impar. Por isso eu ia quase todos os dias na Secretaria da Comunicação, no centro da cidade, ora para levar uma peça, ora solicitar um serviço ou mesmo trocar algumas informações.

Numa dessas idas, estávamos a falar sobre a evolução da propaganda com a abertura que SECOM estava realizando. Nossa Propaganda já estava bem adiantada, inclusive com a criação do Sindicato. Na época fui o Secretário.

Foi nessa conversa que nasceu a idéia de realizarmos um Premio da Propaganda Capixaba que o Cacau, grande admirador da nossa Fauna, já antecipadamente batizou de COLIBRI DE OURO, Eu claro me entusiasmei pela Idéia, e ele se prontificou a patrocinar, inclusive fornecendo as Estatuetas e alguma outra despesas materiais.

O Sindicato se encarregaria de organizar, premiar e distribuir o Premio.
As reuniões eram no Ed. Fontana, na Reta da Penha. Na primeira oportunidade levei a novidade para a Reunião, que foi de imediato aprovada a unanimidade dos presentes.

Daí, o Cacau já tinha solicitado ao grego Yannis um protótipo do modelo, que claro era um beija flor, um símbolo capixaba e teria que ser trabalhado pelo escultor para dar a impressão de que estava flutuando no ar.

Felizmente, apesar de alguns tentarem mudar, permanece ate hoje e é o prêmio mais antigo da propaganda regional fora do eixo Rio X SP."

A seguir você conhecerá a história do Colibri contada pelo seu cridor, o Cacau Monjardim.


NB: O Amauri, um dos mais brilhantes publicitários de nosso estado, natural de Jaú foi para São Paulo e dela saiu para passear por essas plagas e... nunca mais voltou para lá fixando residência por aqui. Juntamente comigo foi um dos fundadores da APES, antecessora do atual Sindicato e sempre procurou aprimorar nossa propaganda, ora com novidades trazidas de São Paulo, ora com sua criatividade.

ELPIDIO MALAQUIAS DA SILVA (Desenhista de Propaganda)

Recorda o Amauri da interessante história do Sr. Elpídio. Vamos conhecê-la:

"Trabalhava na Agência uma figura muito pitoresca. Era o nosso vigia, o Sr. Elpidio Malaquias da Silva. Pessoa muito simples, de palavreado curioso e que começou a fazer pequenos desenhos primitivistas em papeis usando as canetas de hidrocor que ficavam espalhadas pela Agência.

Todas as manhãs ele deixava um pequeno desenho, ora na minha mesa, ora na mesa da Helena Jansen, arte finalista da Agência e esposa do Gonzalo.

Nós achávamos bonitos e curiosos esse gesto daquele homem simples, e resolvemos incentivá-los ainda mais adquirindo para ele a principio, canetas mais especificas e depois telas e pincéis para ele passar aquelas idéias simples, mas ao mesmo tempo belas para as telas de pintura.

E continuou o Elpídio a pintar, agora quadros de verdade. Sempre nós dávamos duas telas para ele pintar, uma para nós, Eu e a Helena, e a outra para ele próprio.

A idéia deu tanto certo que tempos depois , quando a Agência fechou, cada um foi para seu próprio destino, o Sr. Elpídio se tornou um artista de verdade inclusive com exposição própria, e passou a viver dos seus belos e diferentes quadros ate a sua morte.

Hoje tenho com orgulho uns 6 quadros, todos daquele período pós profissional do artista, inclusive um com a fachada da Agência, e com os dizeres:
Este quadro foi pintado por Elpidio Malaquias da Silva, desenhista de propaganda."

NB: Gostaram dessa história contada pelo Amauri? Agora vocês irão conhecer a história de PAULO MONTEIRO VIADO.