quinta-feira, 12 de agosto de 2010

CONTRIBUIÇÃO À PROPAGANDA CAPIXABA

Por: Roicles Coelho

ORIGEM E VIVÊNCIA NO MEIO RURAL

Nasci e passei parte da infância e adolescência no sul do estado, na zona rural de Itapemirim. Deste ambiente assimilei, no convívio com a família e com a gente simples da zona rural, valores como seriedade, lealdade, compromisso e responsabilidade, além do sentido da independência e da liberdade, típicos do homem do campo. Na vida adulta estes princípios se tornariam básicos para alicerçar o comportamento que sempre pautou minha trajetória de vida – dentro e fora da atividade publicitária.

O INTERESSE PELA INFORMAÇÃO

Aos 12 anos passei a residir em Vitória, na Cidade Alta, onde a grande atração para mim era a biblioteca pública onde passava grande parte do tempo livre. Lia, uns após os outros, livros e revistas – até mesmo em espanhol, fortalecendo o hábito da leitura e a busca do conhecimento. Com 15 anos, estudava no Colégio Estadual, no Forte São João, e já produzia um jornalzinho estudantil utilizando um mimeógrafo que eu mesmo fiz pois naquele tempo não havia xerox nem impressora. Iniciava com este informativo meus exercícios na arte da Comunicação.

BELO HORIZONTE – INICIAÇÃO NA PROPAGANDA

Em 1969 decidi me transferir para Belo Horizonte para cursar arquitetura mas ao entrar na primeira Agência de Propaganda mineira recebi proposta para atuar como redator. Como tinha facilidade para redação, aceitei o desafio, arquivando os planos com relação à carreira de arquiteto.

RIO DE JANEIRO: A CONSOLIDAÇÃO DO APRENDIZADO

Cheguei ao Rio de Janeiro no final de 1971. A cidade com seu riquíssimo ambiente cultural estimulava experiências, aprendizado e descobertas.
Perceber tendências e antecipar-se aos acontecimentos foi algo que aprendi no Rio e que sempre busquei através do acesso a informações estratégicas e do convívio com gente inteligente e bem informada. Além disso, tinha, pela primeira vez, oportunidade de atender grandes empresas, que exigiam propaganda mais elaborada e eficiente até mesmo por disputarem mercado com concorrentes de peso. Isso concorreu para minha profissionalização.
Foi também no Rio que a fotografia começou a ocupar um lugar especial no meu campo de interesse tornando-se valioso recurso na atividade publicitária.

RETORNO AO ESPÍRITO SANTO
Decidi deixar o Rio por Vitória em 1973 quando aqui só haviam duas Agências atuando no mercado: Eldorado Publicidade e Meta Propaganda.

Comecei a trabalhar na Meta como Redator e, quatro meses depois, vim formar dupla de criação com Gonzalo Bregón Esteban, Diretor de Criação e Arte, advindo da CBBA Propaganda, conceituada agência paulista. Atendíamos a contas da Secretaria de Turismo, Bandes, Agrosuco, entre outras.
O que criamos e produzimos para estes clientes foi algo tão qualificado que poderia ser utilizado hoje - 25 anos depois. Permaneci na Meta por dois anos, deixando a Agência para constituir a Gonzalo & Roicles Propaganda, sediada na rua Alziro Viana, Cidade Alta.

GONZALO & ROICLES PROPAGANDA

Os resultados do bom trabalho da nova Agência logo se fizeram ver na publicidade da Direção Empreendimentos Imobiliários, da Caderneta de Poupança Tamoyo, da Construtora Boechat, da Imobiliária Patrimônio, da GBG Consultores Associados, da Staca Engenharia e tantos outros clientes.
Como precisávamos baixar custos e, ao mesmo, dar velocidade ao nosso trabalho, comecei a produzir fotos para algumas campanhas da Agência, exercitando a arte da fotografia já não mais como hobby mas como valioso recurso na produção publicitária.
Em pouco tempo estava sendo convidado para expor na Aliança Francesa de Vitória. Era a primeira de sucessivas exposições fotográficas. A mostra se chamou "País capixaba" e revelava a diversidade racial e cultural do Espírito Santo.

POPULARIZAÇÃO DO OUTDOOR

Quando a Agência começou a atuar no mercado percebemos a grande eficiência do outdoor como veículo de comunicação. Era o veículo de maior retorno em termos de custo-benefício. Afinal, todo o trânsito na cidade passava apenas por duas vias sendo possível atingir os consumidores com um mínimo de cartazes de rua. O único problema era que toda a produção dos cartazes era feita em São Paulo - via Nanograf - e o mínimo exigido eram 60 cartazes. A solução foi desenvolver um processo artesanal que permitia produzir outdoor em qualquer quantidade - até mesmo um só cartaz. Foi assim que o outdoor se popularizou no Espírito Santo.

REGISTRO DA PAISAGEM CAPIXABA

Meu interesse pelo Espírito Santo aumentava continuamente. Realizei várias incursões a regiões pouco visitadas em nível turístico e, assim, fiz vários registros fotográficos ao longo do litoral e pelo interior do estado.
Percorri o estado de norte a sul, leste a oeste e fiz o maior registro fotográfico da paisagem, arquitetura, folclore, fauna e flora, chegando a ter o maior acervo de imagens do estado. Hoje quem tem este mérito é a Usina da Imagem, do fotógrafo Humberto Capai que além do registro fotográfico tem uma eficiente organização das imagens, disponíveis para toda sorte de utilização.

REGIONALIZAÇÃO DA PROPAGANDA CAPIXABA

Com tantos registros paisagísticos, conhecendo a história, cultura e valores capixabas comecei a integrar estes elementos locais na comunicação que criava e produzia. Em várias campanhas utilizamos como cenários paisagens de Itaunas, Pedra Azul, Itapemirim, Barra do Jucu, Santa Leopoldina entre outras locações, numa linguagem tipicamente regional mas com um caráter universal. Nas produções para mídia impressa e eletrônica preferenciava modelos capixabas, valorizando a prata da casa. Se fosse necessário orientava e treinava os/as modelos. Em toda a história da Objetiva só uma vez contratamos um ator do Rio de Janeiro: era um comediante da TV Globo, profissional que não havia no Espírito Santo.
Este sempre foi um diferencial da Propaganda Objetiva e uma inovação na Propaganda Capixaba que deixava de utilizar os clichês de Rio e São Paulo para assumir uma forma própria de expressão. Com o tempo as demais Agências do mercado foram adotando – em maior ou menor grau – este procedimento.

PROPAGANDA OBJETIVA LTDA.

Em 1977, após dois anos na Gonzalo & Roicles Propaganda, desliguei-me da sociedade e fundei a Propaganda Objetiva Ltda.
A Agência ingressou no mercado com uma presença forte, lançando "Morada do Lago" um empreendimento imobiliário na Barra do Jucu, a 8 km do litoral. O cliente, Marinho Nogueira Empreendimentos Imobiliários permitiu a utilização de todos os veículos de comunicação, o que resultou em extraordinário resultado de vendas. Desta forma a Agência iniciava no mercado com uma demonstração de competência – o que foi sua marca ao longo de 25 anos de atividade.
No início da Objetiva, com uma estrutura mínima, tinha que acumular várias funções. Por isto, atuei no Planejamento, Criação, Redação, Mídia, Produção RTV e Atendimento. Isto me permitiu ter uma visão abrangente e sistêmica da Comunicação, garantindo maior eficiência nas estratégias de marketing e campanhas publicitárias

CRIATIVIDADE E OBJETIVIDADE

Uma das características da Objetiva sempre foi a criatividade associada à objetividade, o que garantia máxima eficiência na comunicação. A Agência também oferecia soluções bem elaboradas a custos competitivos. Agilidade também era outra característica do atendimento. Maior prova desta competitividade era o fato da Objetiva vencer 9 em cada 10 concorrência que participava – desde que não fosse carta marcada, obviamente.

DO MICRO EMPRESÁRIO AOS GRUPOS ECONÔMICOS

Enquanto a Objetiva atuou no mercado todos os clientes foram atendidos com a mesma atenção - da micro-empresa aos grupos que alavancavam o crescimento do estado. Atendemos com agilidade e eficiência a corporações como o Grupo Pianna, Grupo Aguia Branca, Grupo Líder, Sistema Empresarial Coser (atual Grupo Coimex), Chocolates Garoto, Hortifruti, Centro da Praia Shopping, Emater (atual Incaper) além de Calçados Itapuã, Acta Engenharia, Colégio Nacional, Prefeituras do interior, Banestes, Bandes e Governo do Estado. No caso da CVC, concessionária do Grupo Líder, o atendimento se estendeu por 15 anos ininterruptos.
Lançamos muitos empreendimentos em vários municípios capixabas com predomínio da Serra e, inclusive, alguns loteamentos que se tornaram conhecidos bairros no território serrano.

ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE VITÓRIA
Em 1994 assumi a presidência da Associação Comercial de Vitória, eleito por unanimidade. Desde então, passei a ter contato com os mais diferentes segmentos econômicos pois a ACV integra empresas do Comércio, Indústria, Serviços e Agropecuária, tendo todo o estado por área de abrangência. Comparecia a todos os eventos, passando a ampliar meus relacionamentos na área empresarial, política e de Imprensa, passando a conhecer melhor a economia e o contexto capixaba. Também representava a ACV em diferentes instâncias, em nível de Iniciativa Privada e de Administração Pública.

INTELIGÊNCIA COMERCIAL OU ESTRATÉGICA

Depois de desativar a Propaganda Objetiva, em fins de 2002, passei a perceber que haviam oportunidades em outros campos – economia, por exemplo - e comecei a assessorar a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China a convite do seu Diretor Executivo. Em 2008 comecei a trabalhar para a implantação da Câmara de Comércio Índia-Brasil em Vitória, passando a estudar a economia e cultura do país
asiático. Neste mesmo ano, em articulação com a Findes, atuei na realização do Fórum Econômico Brasil-China e o do Primeiro Encontro Empresarial Índia-Brasil em Vitória .
Percebendo o potencial do setor de petróleo e gás no Espírito Santo realizei várias viagens a Macaé entre 2007 e 2008, fiz contatos estratégicos na cidade-sede da Bacia de Campos e tive acesso a informações qualificadas.

Verificando a crescente importância da Inteligência Estratégica ou Inteligência Comercial (Business Inteligence – BI) decidi me empenhar por mais especialização, buscando maior entendimento da economia – estadual, nacional e internacional, ao mesmo tempo que ampliava relacionamento com empresários-investidores.

NA SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

Em 2008 ainda não sabia como utilizar Inteligência Estratégica no mercado mas no fim do ano surgiu a oportunidade. Em dezembro, num contato com Jessé Moura Marques, apresentei alguns documentos econômicos que desenvolvi e outros projetos com foco econômico, social ou ambiental. Poucos dias depois Jessé, que tinha sido executivo da Aracruz Celulose e do Grupo Águia Branca, me informou que estava sendo indicado para assumir a Secretaria de Desenvolvimento Econômico na gestão de Sérgio Vidigal, Prefeito eleito da Serra. Propôs então que eu fizesse parte de sua equipe para as articulações com o setor produtivo. Em janeiro de 2009 assumi na Sedec como Gerente de Desenvolvimento Econômico – o que tanto representa desafio como um campo imenso de trabalho e realização.

NB: Roicles é uma das figuras que mais contribuiram com o desenvolvimento do mercado capixaba de propaganda. Uma figura impar.

2 comentários:

  1. Roicles realmente é um cara incrível e muito talentoso. Tem sido um grande parceiro no desenvolvimento do nosso município.

    Paola Souza
    SEDEC/PMS

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  2. Prezado gostaria de perguntar, qual agencia fez aquela propaganda da Caderneta de Poupaça Tamoyo, em que um homem humilde e mau arrumado é entrevistado proximo a escadaria do Palacio Anchieta, com a seguinte questão: Qual é a caderneta de poupanca capixaba? Ate hoje o que ele respondia é motivo de polemica na minha roda de amigos, ja que simplesmente era muito dificil de entender o que o homem falava. Alguem poderia exclarecer este CLASSICO da propaganda capixaba.

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