quinta-feira, 24 de junho de 2010

A COMUNICAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO

Por: Márcio Lobato


“Os anos 70 foram fundamentais para a comunicação no Espírito Santo, principalmente para a publicidade. A UFES dá início ao curso superior de Comunicação Social, onde o saudoso Xerxes Gusmão Neto ministra a matéria Publicidade e Propaganda, única para a área no currículo do curso. Quase que paralelamente, é lançada a TV Gazeta, afiliada à TV Globo, que muda totalmente a forma de se fazer comunicação no Espírito Santo, antes restrito aos jornais, rádios AM, TV Tupy – canal 6 (antiga emissora dos Diários Associados, que não tinha a menor preocupação com a qualidade de imagem e do som exibidos). Dá-se, nessa época também, a interiorização do sinal da televisão, antes restrita apenas ao que hoje se chama Grande Vitória.

As agências de publicidade não eram muitas e sofriam com a falta de anunciantes e veículos. O Governo Élcio Álvares, numa decisão salomônica, incentivou a criação do Consórcio de agências, minimizando as brigas e possibilitando o investimento em estrutura e profissionais. Só a Eldorado, trouxe para o estado, nessa época, entre outros, Sérgio Dória (SP) e Maria Ribeiro (RS), fortalecendo a área de criação da agência, para a Uniarte veio o Ronaldo Alvim (SP), entre outros.

A TV Gazeta, manda para a RBS, no Rio Grande do Sul, sua equipe de atendimento, formada por José Antônio Neffa, Augusto César da Rocha e Danúbio Bezerra, com este último dando lugar depois ao Heitor Nogueira. Começava aí a profissionalização das relações agências-veículo-anunciantes.

Tudo ainda era muito difícil. Um roteiro ficava dez dias na Polícia Federal para ser aprovado ou não pela censura. Ou era VT de cartela, slides (table-top) ou filme 16mm, preto e branco, com todas as dificuldades de revelação e montagem próprias. Quer dizer, entre a aprovação do cliente e a efetiva veiculação, se não houvesse nenhum problema, independentemente se era material institucional ou varejo, se levava pelo menos 20 dias. Com a chegada dos VT’s Quadruplex, mesmo com o peso excessivo do equipamento, começava a ficar mais fácil captar imagens e editar. Profissões hoje comuns como diretor de cena, diretor de fotografia, produção de set, compositor de trilha, não existiam ou não eram usadas. A edição era limitada aos recursos das mesas de edições. Aqui abro um parêntese para me lembrar de duas pessoas que muito ajudaram a melhorar os comerciais eletrônicos, Arnaldo “Famoso” – um mágico da luz e Ubirajara Pinto, o Bira, que com sua paciência e dedicação, ensinou a muita gente e encontrou soluções que pareciam não existir. Ambos oriundos da TV Globo e do quadro inicial da TV Gazeta.

Na área gráfica, também não tinha moleza. Tudo era montado na prancheta ou com letraset (para os mais novos, folhas com letras e símbolos gráficos, com pouquíssimas opções de fontes, que eram decalcadas uma a uma na arte, comercializados em papelarias) ou então foto letra (encomendadas no Wagner, com maior variedade de fontes e tamanhos, mas que exigia um tempo a mais, já que eram feitas – fotografadas e copiadas – de acordo com o pedido do cliente). Daí mandava-se fazer o clichê no Hans ou o fotolito.
O rádio era o meio de comunicação mais abrangente e com o maior número de profissionais (locutores e operadores) e de anunciantes. Programas como Jairo Maia (que ainda era dono da discoteca do mesmo nome no Parque Moscoso), Ronda da Cidade, Castelo Mendonça, Hora do Almoço eram sucesso de público e de venda. Não se pode falar aqui de audiência porque não tinha nenhuma pesquisa. A comercialização de espaço de qualquer veículo se dava mais pela amizade e presença política de quem oferecia do que pelo retorno do investimento e muitas vezes, a compra dos espaços era efetuada porque era o programa ou o jornal que o anunciante via/ouvia/lia.

As maiores agências daquela época eram: Eldorado, Uniarte, Meta, Objetiva, Tema.

Os maiores anunciantes: além do Governo do Estado e Banestes/Bandes, eram Casas Eduardo, Casas do Anzol (de Colatina), Fokus, A Esportiva, Supermercados Santa Martha, Calçados Itapuã, Supermercados Boa Praça, Prefeitura de Vitória, Distribuidora Mercantil, Corretora Lima e Lima, Caderneta de Poupança Tamoio, Acta Engenharia e a Mesbla.

A Fokus tinha um comercial que até hoje é exemplo de eficiência, criatividade e simplicidade: era um toca disco, rodando um disco de vinil. O braço se movimentava e quando a agulha tocava o sulco do disco, a locução dizia: Fokus – especializada em som. Sobrepunha a logomarca e endereço. Tudo isso em um só plano e em 15 segundos.

Vendo hoje a produção/edição de um comercial nas modernas ilhas digitais é que tomo consciência do quão trabalhoso e criativo era fazer televisão. Um insert era trabalho para horas e envolvia vários profissionais. Para dar movimento a ele, então, nem se fala.

Tinha que se queimar fosfato e ir à tentativa do erro/acerto. Um texto falado diante das câmeras tinha a necessidade de usar a famosa “dália”, uma folha de cartolina contendo o texto a ser lido. Os créditos dos telejornais eram montados em letraset sobre o papel carbono extraído da folha dupla de papel do telex ( o precursor do msn) e aí montados numa traquitana que mais parecia uma carretilha, para alguém rodar no tempo exato destinado a ele e num mesmo ritmo. O croma-key só era recortado em preto. Era tudo manual e dependente do homem.

A TV Vitória/Rede Tupy, tinha alguns programas de auditório comandados por Jadyr Primo, Nilton Gomes e Carlos Alberto de Oliveira, só para citar alguns. Mas com produção precária e transmissão idem.

Com a criação da TV Gazeta/Rede Globo, foram realizados investimentos para a estruturação da produção de comerciais (a extinta Central de Produções Comerciais) e para os programas jornalísticos. É dessa época o programa Jornal do Campo, idealizado pelo jornalista Ronald Mansur, que antecedeu à criação do Globo Rural e serviu de referência para o mesmo.

Nos primeiros anos da década de 80 coube a Amylton de Almeida dar visibilidade à nossa produção local de televisão com o documentário “Lugar de toda pobreza”, o famoso vídeo-denúncia que mostrava homens e bichos brigando pela sobrevivência no lixão do bairro São Pedro. Foi premiado pela TV Globo.

Em 1984, o Grupo Buaiz compra de João Calmon a TV e Rádio Vitória e troca a programação da TVS (ex-Tupy) pela programação da Rede Manchete. A TVS (hoje SBT) passa então a ser transmitida pela TV Tribuna, do Grupo João Santos. A TV Vitória começa a investir na qualidade do sinal e na programação local, com o Jornal do Povo, cujo apresentador e responsável era o Oswaldo Oleari e com programas de debates que tinha como mediador o Luiz Eduardo Nascimento.

Hoje, são dezenas de programas produzidos nos mais diversos canais de televisão, sem nada desmerecer aos programas produzidos pelas cabeças de rede. A tecnologia que elas usam lá, também usamos cá. Centenas de empregos foram criados. Profissionais se especializam e abrem novos nichos de mercado. A pesquisa de audiência é ferramenta básica para se programar um anúncio e garantir o retorno do investimento do anunciante. O que hoje parece óbvio e fácil foi fruto de muita luta e o melhor é que todos ganharam: os empresários do setor de comunicação; os profissionais envolvidos nas mais diversas etapas das agências, veículos e produtoras; os anunciantes que reduziram seus riscos e principalmente, os leitores, ouvintes e telespectadores de qualquer canto do Espírito Santo que usufruem da democracia tecnológica, da profissionalização da nossa comunicação e da qualidade do que aqui é produzido e dos nossos veículos (com o advento da internet e TV digital o Espírito Santo largou na frente de muitos estados teoricamente mais poderosos).


NB: A memória do Márcio traz à lembrança nomes de pessoas que já não se encontram em nosso meio mas foram profissionais que prestaram imensa contribuição ao mercado seja trazendo novas técnicas comerciais, seja inovando a linguagem, cada um a sua maneira deixou uma marca indelével na história da comunicação do Espírito Santo.
Com muito orgulho pude conviver e aprender os ensinamentos de Mestres como Xerxes, Sérgio Dória, Bira, Amylton de Almeida e o “imperdível” Luis Eduardo Nascimento.

2 comentários:

  1. Trabalhei como caseiro na casa do Drº Sérgio Dória - precisamente na rua Rômulo Samorini - Praia do Canto, no final da Aleixo Neto. Isso foi em meados da década de 80, por volta de 1986. Cuidava das plantas e do pastor alemão que ele tinha chamado Reno.Ele era um senhor sério e brincalham ao mesmo tempo.Lembro até hoje quando fui com ele e sua esposa numa fazenda de amigos deles no interior de linhares - povoação. Soube que ele havia falecido em 1987 através do jornal A Gazeta.

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  2. Prezado gostaria de perguntar, qual agencia fez aquea propaganda da Caderneta de Poupaça Tamoyo, em que um homem humilde e mau arrumado é entrevistado proximo a escadaria do Palacio Anchieta, com a seguinte questão: Qual é a caderneta de poupanca capixaba? Ate hoje o que ele respondia é motivo de polemica na minha roda de amigos, ja que simplesmente era muito dificil de entender o que o homem falava. Alguem poderia exclarecer este CLASSICO da propaganda capixaba.

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