terça-feira, 25 de maio de 2010

ANOTAÇÕES DO OLEARI - parte 2

Foi outra porrada: a Eldorado emplacara uma campanha de lançamento de um empreendimento do grupo Tristão, poderoso e que poderia, sem qualquer sombra de dúvida, ter contratado uma agência nacional de renome.
Empresas de famílias quatrocentonas da velha sede da Capitania do ES, que jamais haviam tratado com agências profissionais começaram a nos solicitar.
O empresário Vitor Larica, de família tradicional, foi um dos. Queria um estudo para vender sua empresa de móveis de escritório. O Janc partiu e ganhou o Vitor com a criação do logotipo da empresa, que sobreviveu enquanto a empresa existiu.
Ah, você ser chamado pela tradicional casa Orlando Guimarães foi qualquer coisa de notável. O grupo, centrado na figura sóbria, discreta e célebre de Orlando Guimarães, jamais trabalhara sua imagem, mantendo, de certa forma, aquele distanciamento do seu público. Além de seu Orlando, Itamar Guimarães Pereira de Souza e Antonio de Oliveira Santos eram nomes do topo da empresa. Seu Orlando, nessa época, era o maior acionista privado da Cia. Telefônica do Espírito Santo.
“Eles querem que façamos um estudo para eles”, veio dizendo o José Roberto Prado Coelho. Janc e eu sentamos e ele começou a desfilar argumentos que, achava, poderíamos alinhavar nesse estudo, com base em tudo o que sabíamos sobre os negócios da empresa Orlando Guimarães. Janc foi exato nas suas definições e me disse claramente: “acho que se você conseguir traduzir esta nossa conversa e transpor pro papel, a gente pelo menos não vai se envergonhar”.
Parti pra máquina e deixei cair. Sem revisão, levei o texto ao Janc: “toma aí, foi o que consegui”. E fui ao um café. Ao voltar, encarei o Janc, temeroso do que ele poderia dizer. Ele disse:
- É um tratado. Podemos ir em frente...
Fomos. O Antonio Oliveira Santos – celebridade do alto mundo social de Vitória que chamávamos Dr. Antonio de Oliveira Santos – recebeu nosso estudo e foi o primeiro ao lê-lo, diante do Janc, do Zé Roberto e do Oleari.
- É uma peça, disse Dr. Antonio. Vamos conversar.
Tava no papo mais uma conta de empresa tradicionalíssima que até então só participava de mensagens especiais de cadernos de natal e outros hábitos “mercadológicos” da época.
E assim, debaixo de contínua pressão dos “donos” do mercado publicitário, corretores isolados especialistas em “cadernos especiais”, que nos secaram pra caralho, a Eldorado Publicidade foi se firmando no mercado.
As mídias predominantes eram os jornais e o rádio. O rádio de ondas médias, como se dizia, mais tarde rádio AM – de amplitude modulada.
Uma nova loja de material de construção, filial do Rio de Janeiro, a Marcovan, nos solicitou. Fizemos todo o seu lançamento.
Como em Vitória, o estúdio de gravação disponível era o da Rádio Espírito Santo, de baixíssima qualidade final, defini que ou iríamos produzir nossos gravados – geralmente spots e um locutor só ou de uma dupla, masculino e feminino – no Rio ou em São Paulo...ou em Colatina, minha terra.
Os parceiros se espantaram. Se em Vitória é ruim, imagine em Colatina. Provei que não. A Rádio Difusora de Colatina, comandada pelo competente empreendedor Geraldo Pereira, tinha um estúdio muito bem montado e oferecia ótimos resultados técnicos.
Lá gravei alguns dos nossos melhores e mais célebres spots – Marcovan, Orlando Guimarães, Eldorado Melhoramentos – com locutores do nível de Oridizi Aguiar, Maria José, entre outros.
Aqui, me perguntavam: “você gravou no Rio ou em São Paulo?” Respondia orgulhosamente, nenhum nem outro e apontava a ótima qualidade do estúdio do Geraldo Pereira, em Colatina.
A agência cresceu, apesar de todo o esforço da “oposição” estabelecida. Fez história.
No final de 1970, estava saturado de toda aquela pressão, muito trabalho para conseguirmos nos manter de pé, resolvi sair pra outra. Rio ou São Paulo, qualquer coisa que não fosse Vitória.
Com saídas da agência, eu ficara com 75% e José Roberto com 25%. Janc havia saído para outra. O governo do estado acabava de ganhar um novo gerente biônico, o Tuzoca – Arthur Carlos Gerhardt Santos, o primeiro presidente da Codes-Cred, futuro Bandes – que dera curso as idéias de Christiano Dias Lopes Filho para desenvolver o estado.
Diante da minha intenção de sair, surgiu Leo Becher, cunhado de Tuzoca, amicíssimo de José Roberto Prado Coelho. Nas conversações, fomos acertando e era empregado da agência Xerxes Gusmão Neto, a quem sugeri certo dia:
- Por que você não entra com o Zé Roberto e o Leo?
Xerxes me respondeu:
- Mas eu não tenho dinheiro...
Retruquei:
Mas não precisa dinheiro, estou saindo sem dinheiro, eles vão pagar algumas coisas pra mim, parcela de carro, essas coisas...
Xerxes entrou como sócio da Eldorado Publicidade, que seguiu seu curso.
Fui. Na minha escolha, deu São Paulo, onde tinha amigos – o Renato Viana Soares, o Claudio Antonio Lachini – e por lá fiquei até 1975 e mais de meio.
Fui.
E assim terminamos de postar as lembranças do tempo em que Osvaldo Oleari militou na publicidade capixaba.

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