terça-feira, 25 de maio de 2010

MEMÓRIAS DO JANC


Ser pioneiro ou ter uma grande idéia faz qualquer ser humano feliz. E eu sou. Afinal, trabalhando em A Gazeta, fui o primeiro diagramador e desenhistas de charges diárias da Imprensa capixaba. Mas o que me orgulha mesmo é a iniciativa que eu tive certa vez e que promoveu uma mudança radical na publicidade do Espírito Santo.

A minha formação profissional foi no Rio de Janeiro, onde trabalhei de 1956 a 1962. Fui desenhista da Rio Gráfica Editora - hoje Editora Globo - e, paralelamente, durante um bom tempo, trabalhei no Departamento de Artes de Publicidade do jornal O Globo.
A minha presença em O Globo foi solicitada pelo Doutor Roberto Marinho ao meu chefe, já que ele queria que um desenhista da Rio Gráfica se aprimorasse em publicidade para melhorar a divulgação das revistas da editora. E fui o escolhido porque, entre os meus colegas, eu tinha mais jeito para a coisa.
Então a minha vida profissional neste período ficou assim: de manha eu ia pro O Globo e à tarde para a Rio Gráfica, lá na rua Itaperu, 1209. Aproveitei bem o estágio porque aprendi muita coisa sobre publicidade, coisas que anos depois seriam de muita utilidade para mim.

Em 1965 eu trabalhava à noite em A Gazeta e de dia na Eldorado Melhoramentos como responsável pela feitura dos anúncios dos edifícios lançados pela empresa. Quem me levou para a Eldorado foi o Cariê. Achava muito estranho que quase todos os jornalistas que trabalhavam em A Gazeta eram uma mistura de repórteres/redatores e agenciadores de anúncios. Afinal, eu havia sido profissionalizado num ambiente em que jornalista era jornalista e agenciador de anúncios era agenciador de anúncios. Percebi, então, que isto acontecia porque por aqui não havia nenhuma agência de propaganda. E quando descobri que no papel de carta da Eldorado Melhoramentos tinha relacionado em letras miudinhas a “propaganda” entre as suas diversas atividades - mas que não existia na prática - tive a idéia de tornar real aquele item e para concretiza-la procurei o principal executivo da empresa, o Cariê, sugerindo que fosse criada uma agência de publicidade. Ele achou interessante a idéia e aprovou.

Mas o que precisava para montar um agência de publicidade? Bom, pelos meus conhecimentos da época, expliquei: ”Um desenhista, que sou eu, um redator e um contato e a parte administrativa da empresa”. E fui logo indicando: “A Gazeta tem um rapaz que escreve uma coluna muito criativa e eu tenho certeza que ele dá para o negócio”. Falava sobre o então jovem Oswaldo Oleari e fui incumbido de convida-lo para a empreitada. Agora tínhamos um desenhista e um redator e só estava faltando o homem do contato. Aí foi a vez do Oleari indicar um amigo dele, que havia trabalhado na Rádio Capixaba e que estava meio sumido porque a Revolução não o via com bons olhos. Era o José Roberto Prado Coelho. O trio necessário para tocar a Eldorado Publicidade estava formado e agora só faltava registra-la. Eu me lembro que ficou combinado assim: eu, Oleari e Zé Roberto teríamos uma retirada mensal e, paulatinamente, iríamos integralizar o nosso capital na empresa, enquanto os outros sócios - Cariê, Dr. Armando Rabelo, Gilberto Pacheco da Costa e Jorge de Souza - não teriam direito a retiradas mensais.

Nos instalamos numa sala no quarto andar do Edifício Banco Mineiro e começamos a mudar a história da publicidade no Espírito Santo. Os primeiros trabalhos foram para a empresa-mãe, a Eldorado Melhoramentos. Divulgamos os lançamentos do Atalaia Iate Clube de Guarapari, edifícios Eurico Sales, Martinho de Freitas, entre outros empreendimentos imobiliários. Um dos trabalhos mais importantes que fiz foi o de editar uma revista sobre o lançamento da nova sede do Clube Vitória, o chic da época. Este trabalho foi importante porque a minha parceira nele foi a Carmélia M. de Souza - a eterna cronista de Vitória - responsável pelos textos da publicação.

Em poucos tempos já tínhamos algumas contas importantes, como Marcovam (loja de material de construção) e Frigorífico Frincasa. Mas, continuávamos com um problema. Os corretores de anúncios, que a gente chamava de “picareta”, continuavam assediando os nossos clientes que as vezes eram obrigados a destinar uma verbinha para publicações em algum suplemento especial, principalmente os de Natal. Então, sugeri fazermos um quadro de uns 40 x 40 cm, com seguinte advertência, em letras bem grandes: “A conta publicitária desta empresa está entregue à Eldorado Publicidade”. Este quadro ficava bem visível na sala de espera do principal diretor da empresa e surtiu efeito porque o assédio dos “picaretas” diminuiu bastante...

Eu já não conseguia dar conta sozinho de todo o serviço. Foi quando descobri que tinha um desenhista trabalhando numa empresa de confecção de placas que era uma fera no desenho. Certa noite, - eu me lembro bem - , ao sair da redação de A Gazeta, no ponto de ônibus que ficava em frente a escadaria do Palácio Anchieta, encontrei com a fera e o convidei para trabalhar com a gente. Foi assim que o Milson Henriques entrou para a Eldorado Publicidade, que foi a porta para ele trilhar o caminho do sucesso, tornando-se o multimídia mais respeitado no Espírito Santo.

Mais tarde, precisando de um jovem para fazer serviços de office-boy, colocamos o seguinte anúncio em A Gazeta: “ Precisamos de um jovem de até 15 anos que tenha pendores artísticos para pequenos serviços em agência de publicidade.” Entre os muitos meninos que apareceram , surgiu um magricela que me chamou atenção e foi selecionado. Este menino é hoje o desenhista Coutinho, muito conhecido no meio publicitário capixaba. Depois do Coutinho, foram meus parceiros na Eldorado os desenhistas Gilson Lourenço e Wilde.

Naquela época, a Garoto já era uma empresa de renome nacional. Mas a sua publicidade não era do nível de seus produtos. Aí, o Zé Roberto iniciou contatos com a empresa, mais precisamente com Helmut Meyerfreund. Preparamos um material para convencermos o senhor Helmut a nos entregar a conta de sua empresa. Bolamos um cartaz que foi feito a seis mãos: eu fiz o layout e a arte final dos bonecos, o Milson desenhou os bombons e o Gilson desenhou as letras. O Zé Roberto levou o material para o senhor Hemult examinar, ele aprovou e foi assim que a Eldorado passou para a história como primeira empresa de publicidade a ter a conta da Chocolates Garoto.

É claro que, com o nascimento e crescimento da Eldorado, quem quisesse trabalhar no ramo teria que se organizar e por isso os “picaretas” foram sumindo do mercado e em seus lugares surgiram outras empresas de publicidade, como a Meta e a Seta, que por sua vez deram lugares a tantas e tantas outras empresas importantes, que hoje colocam o Espírito Santo na primeira .linha da propaganda brasileira.

Bom, como eu sempre fui mais artista do que empresário, deixei a Eldorado. Lá ficaram Oleari e o inesquecível Zé Roberto, dois profissionais do mais alto nível e que contribuiram bastante para o crescimento da publicidade séria no Espírito Santo.

Depois que sai da Eldorado cheguei a montar uma nova agência, a Scala, com o saudoso Olívio Cabral e o desenhista Dino Gracio (na foto com Janc, acima). Mas, em 1976 apareceu a Copa A Gazetinha em minha vida e... Bom, aí começou outra história de pioneirismo.

JOSÉ ANTÔNIO NUNES DO COUTO - JANC

NB: O JANC nos mandou anúncios e cartazes que fez em sua militância na Eldorado que são verdadeiros tesouros e estarão no livro.

2 comentários:

  1. Comentário apenas para esclarecer outro dado: O único neurônio do nosso querido Milson Henriques faiô traveiz.
    Quem levou o Milson para a Eldorado Publicidade foi o incrível Janc (que não era verdde) e não o Cariê, como o Milson anotou. O Janc, pelo seu trabalho em anúncios para a Eldorado Melhoramentos, cujos donos eram o Cariê, o Gilberto Pachedo da Costa, o grande Dr. Armando Rabelo - uma das grandes figuras da nossa história política e administrativa do ES - o Eduardo Curri, o Jorge Souza, dos que me lembro.
    Foi aí que Janc conheceu os traços do Milson, que defendia um troco na Nick, a empresa de placas, de propriedade do Nilson, salvo falha do meu neurônio e meio.
    É só uma correção histórica, sem demérito pra ninguém.

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