sábado, 22 de maio de 2010

ANOTAÇÕES DO OLEARI

Fui indicado para a formação da Eldorado Publicidade pelo José Antonio Nunes do Couto, então mais conhecido como Janc. Ele era o único da equipe inicial que já havia trabalhado numa estrutura grande, pois vinha do Rio de Janeiro, para onde foi depois de deixar seu São Gabriel da Palha, e onde trabalhou na Editora Rio Gráfica e outras empresas do sistema Globo.
Janc tinha conhecimentos do ponto de vista da criação como desenhista, e foi peça fundamental para o funcionamento da Eldorado Publicidade. A indicação de Janc a meu nome foi corroborada pelo saudoso Gilberto Pacheco da Costa, que era de Niterói, onde nessa época “os urubus voavam de costas”, como sempre se referiu a Niterói o jornalista, cronista, escritor Stanislaw Ponte Preta/Sergio Porto.
Ele era leitor duma coluna que eu escrevia diariamente para o jornal A Gazeta, chamada “Diagonal” – em homenagem ao belíssimo tema de Johnny Alf – e, segundo me disse, na primeira vez que nos encontramos para falar sobre a idéia da agência, gostava muito do meu texto, “irônico, escrachado às vezes e sempre crítico”.
Bem, leitor, fã, agora sócio e amigo Gilberto Pacheco da Costa, um cara criativo, debochado também, que via lá na frente. Como, afinal, me tornei próximo dos seus irmãos, o saudoso Geraldo – era um figuraço – e do Gilson, atualmente presidente da Associação dos Moradores da Praia da Costa. O Janc, recém-chegado do Rio de Janeiro, já estava escolhido como o lay out man e inicialmente também artefinalista da agência.
Eu fui, claro, como redator. e, de certa forma, como criativo da agência, embora, na prática, muitas vezes um trabalho, uma campanha que fosse, surgisse da troca de idéias em reuniões quase sempre comandadas por Gilberto Pacheco da Costa e muitas vezes brifada pelo Janc. Ou, às vezes, num papo dele comigo.
Indicado e dentro, indiquei e convidei o José Roberto Prado Coelho – fomos colegas de “ginásio” no Colégio Americano e havíamos trabalhado juntos na Rádio Capixaba – para ser o primeiro contato da agência. Estava formado o núcleo “executivo” da EP: Janc, Oswaldo Oleari, José Roberto Prado Coelho, o último a chegar. Os demais eram o citado Gilberto, o Cariê, Dr. Armando Rabelo e Jorge de Souza.
Como disse o Cariê – que, curiosamente, esquece de me citar como sócio-fundador e primeiro redator da Eldorado Publicidade em seu depoimento – as carências do grupo formado há três anos aumentavam e eles decidiram por criar uma agência, inicialmente uma “house”, mas, logo, logo, transformada numa agência para atender também ao mercado externo.
O que ocorreu também, logo, logo que correu a notícia da criação da Eldorado Publicidade. Nosso primeiro cliente externo foi a primeira grande casa de boliche do ES – o Bolichic, salvo engano de alguns neurônios meus - erguida no segundo piso do prédio da atual delegacia regional do Ministério do Trabalho, na rua 23 de Maio, bem em frente ao antigo Cine São Luiz, do grupo Edgar Rocha.
Milson Henriques foi o primeiro empregado da Eldorado Publicidade. Estava de passagem por Vitória, vindo de Campos (RJ) e resolveu dar um tempo por aqui. Pronto, a Eldorado Publicidade ganhara seu artefinalista para trabalhar em dupla com Janc. O segundo foi um meninim magrelim, que, atendendo a um anúncio classificado, chegou à sala 811 do edifício Banco Mineiro da Produção, na avenida princesa Isabel, com trocentos esboços, desenhos, rafiados iuiscambau a quatro, e despejou sobre uma mesa.
Janc, eu, Milson, olhamos parte do que o magrelim mostrava e pronto: José Marcus Borges Coutinho se incorporou à equipe, agora com cinco pessoas, todas as suas manias e conflitos, que eram muitos. O leiati do BoliChic levou mais de 15 dias para “sair”. Janc alegava “falta de inspiração” para a demora, pois ele decidira dar a partida e criar a campanha.
Valeu a demora. Janc apresentou um leiauti arretado, muito expressivo, que deixou os sócios da Eldorado embabacados – isto é, com caras de babacas mesmo – diante do novo. Um dono de gráfica da rua Gama Rosa, no térreo do IBeuv – Instituto Brasil/Estados Unidos – ficou maravilhado e deixou cair: “Que coisa, em Vitória já se faz isso...é, a cidade está crescendo”, disse.
Nosso segundo cliente foi uma empresa que se propunha a instalar música ambiental em empresas, aquela coisa horrorosa chamada “música de elevador”, que na atualidade se chama “lounge”, ou qualquer besteira parecida. Por aqui, era também “coisa nova”. Seria necessário encontrar algo muito forte, apelativo, pra plantar o lançamento da empresa de som.
Apelei. Neurônios em efervescência, precisava mostrar serviço, criei um anúncio com palavras quebradas, que começava assim:
- Você gosta de musica?
E ia por aí. Radicalizei: era para ser publicado em ¼ de página na primeira página de A Gazeta. Internamente, torceram o nariz. Mas, primeio o Janc, depois o Gilberto apoiaram “a loucura”.
No primeiro dia do anúncio, Cariê – Carlos Lindenbergh Filho – foi a “primeira vítima” da ousadia. Logo cedo, recebeu telefonemas de amigas da família, leitoras do jornal: “Cariê, você viu os erros que sairam na primeira página do jornal hoje?”
O anúncio foi, como se dizia no século 20, mamão com açúcar. Internamente, usamos uma expressão mais adequada: “Foi pá e bosta”.
A Eldorado Publicidade começava a aparecer e a despertar curiosidade e atenções, mas em contrapartida também foi colocada na marca de tiro por parte de corretores donos da praça. Em várias circunstâncias, alguns cercaram algumas boas oportunidades de negócios, usando suas influências.
O medo do novo, diziam. Que nos levou a trabalhar a pão e água por algum tempo. Os lançamentos do grupo Eldorado Melhoramentos se sucediam. Edifícios residenciais, comerciais, clubes – o Atalaia Iate Clube de Guarapari, por exemplo. Criada a campanha, aprovada, planejada para ficar no ar inicialmente por pelo menos 60 dias, não durou mais que uma semana, o tempo de venda dos títulos do clube. A campanha, o lançamento, tudo um sucesso!
Um edifício residencial a ser lançado pela Eldorado Melhoramentos na rua do Vintém bateu na faixa de novembro/dezembro: ou se lançava aí ou só “depois do carnaval”. Qualquer menor conhecimento rudimentar de mercado desaconselha algum tipo de lançamento num período difícil de “furar” devido aos zilhões de ofertas para o período natalino – assim já diziam os entendidos.
Não tinha arrego: o edifício precisava ser lançado.
Apelei mais uma vez. Criei na base de uma rima pobre: “Na Rua do Vintém, um jeito bom de morar bem”. Todos acompanharam o “plenamente aprovado” do Gilberto Pacheco da Costa e do Janc. E daí? Apelei mais ainda: “vamos chamar o Geraldo (Pacheco da Costa) pra gravar o spot”.
- “Você está mais doido? O Geraldo não tem voz pra isso...”
Geraldo tinha uma voz metálica, bem aguda. Fiz a defesa: “Por isso mesmo, não vai ter como não prestar atenção ao anúncio do Edifício”. Fomos para o estúdio. Geraldo Gravou. E a campanha foi para o ar.
Meu faro canino – maior e mais sensível do que a intuição humanimal – comprovou. O edifício da rua do Vintém “vendeu” adoidado.
Eram os idos de 1965, ano de fundação da agência. No radim de pilha ancorado na janela da sala 811 do Ed. Banco Mineiro, com vistas para o morro Pela Macaco, em Argolas, e para os botes que atravessavam Vitória/Paul e vice versa, Roberto Carlos estourava: ”E que tudo mais vá pro inferno...” tocava mais do que notícia ruim sobre a ditadura implantada um ano antes.

Depoimento de Osvaldo Oleari, jornalista, Radialista, Publicitário e sócio fundador da Eldorado.
Continuaremos com as memórias do Oleari sabendo como foi no Grupo João Santos.

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