terça-feira, 25 de maio de 2010

AS VOLTAS QUE UMA PUBLICITÁRIA DÁ . . .

Em 1976, eu, Stelamagda Coser, então caloura do recém criado Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), fui incentivada pelo amigo e colega de turma, José Irmo Gonring, a procurar a agência de publicidade Uniarte, sob a coordenação de Álvaro Soares Nazareth. Motivo: ele estava querendo um profissional de Mídia para a sua agência. Sem saber a prática da profissão, mas, expert na teoria, graças aos professores acadêmicos e, principalmente, aos livros de pesquisa, avidamente consultados, convivi, diariamente, com publicitários de “peso”, que faziam parte da equipe funcional da empresa, os quais me ofereceram os subsídios para a profissão que abracei até meados de 1997, quando me desliguei deste ramo profissional. Um dos mais queridos: José Valdir Teles (com V e um L só) ao qual me agarrei (no bom sentido) com unhas e dentes, para aprender tudo, se possível, dentro de uma agência de publicidade. José Valdir, paulista, egresso de várias agências e gráficas famosas, não media o vocabulário farto de palavrões. No dia a dia,procurava amaciá-lo com vários pedidos de desculpas. No término de cada expediente, perdia-se a conta dos mesmos. Finalmente, de comum acordo, decidimos considerar que o seu linguajar era a “cara” dele e que dispensava pedido formal de desculpas. A partir daí, deixei de ficar ruborizada e meu querido José Valdir ficou muito mais à vontade, com seus @”#**! Para bom entendedor, um pingo é letra!
A Uniarte foi uma verdadeira escola de publicidade para mim. E desta agência guardo recordações geniais. Álvaro, além de sócio administrativo, era, entre outras funções, contato publicitário. Segundo ele, também por ser revisor, nenhuma peça publicitária sairia da empresa sem uma revisão criteriosa. Pois bem: certa vez, em um anúncio imobiliário para o cliente Direção Empreendimentos Imobiliários Ltda, Dino Gracio, diretor de criação (baiano importado de Brasília), José Valdir (diretor de produção) e com a anuência dos demais funcionários, colaram um croqui de um vaso sanitário no centro de uma área decorada como “sala de visitas”, no layout que seria apresentado ao cliente, por Álvaro, para aprovação. E ele só se deu conta do fato quando estava saindo e Dino o avisou. Que belo revisor, Álvaro!
O meu “batismo” como profissional de Mídia, dentro da Uniarte, aconteceu após a aprovação de um plano de mídia para o cliente Deleite, referente ao lançamento de uma linha de iogurtes no mercado mineiro, principalmente na região metropolitana de Belo Horizonte e no município de Juiz de Fora e áreas circunvizinhas. Nunca estudei tanto a programação da Rede Globo, seção Minas Gerais, como naquela ocasião. Sabia de cor e salteado os índices de audiência de todos os programas selecionados, uma cortesia da própria Rede Globo. E eis que no dia do lançamento da campanha em toda a região de Juiz de Fora, a emissora de TV, afiliada da Rede Globo, ficou fora do ar, em quase todo o período acobertado pelos programas selecionados. E isso só foi comunicado dias depois, para a compensação dos comerciais não exibidos. Por isso, reforço que, naquela época, ser Mídia era 1% de criação e 99% de transpiração! O mais puro sufoco! Porque não existiam ainda no Espírito Santo mecanismos de controle e aferição dos comerciais e spots veiculados nos meios de comunicação de massa. O que realmente valia era a máxima: “ver para crer”.
A Uniarte também foi o berço da Quatro Com Agência de Propaganda Ltda, da qual fui sócia, no período compreendido entre os anos de 1980 a 1997, quando foi consolidada a baixa da empresa.
A partir de 1982, com o desligamento de Dino Gracio da sociedade da Quatro Com, Belmiro Perini Jr e eu, os sócios restantes, decidimos conversar com a clientela da agência sobre o possível encerramento de suas atividades comerciais, pois, não acreditávamos na possibilidade de sua continuidade frente ao mercado publicitário. Nossa decisão precisou ser revista diante do incentivo do Sr Wilton Santos Strauch, sócio administrativo da Strauch Cia Ltda que, de forma bastante decidida, comunicou o seu desejo de continuar sendo atendido, publicitariamente, pela Quatro Com. Diante desse novo alento, a Quatro Com se transformou na House Agency da Strauch, com plenos poderes em toda a sua publicidade. Durante os demais l5 anos, Belmiro e eu, estivemos dedicados aos anúncios e comerciais de TV requisitados, principalmente através de verbas cooperativas. Não é exagero dizer que a publicidade da Strauch fez escola no mercado capixaba. Tivemos seguidores. Desde os anúncios com página roubada (1/2 página invertida) até às páginas centrais, veiculados no jornal A Gazeta. Quase sempre, nas melhores (e mais caras) páginas deste veículo, o que gerava ciúmes entre as demais empresas de varejo, também anunciantes. Reza a lenda de que o motivo seria a preferência “declarada” do Sr José Gonçalves (chefe do setor comercial de A Gazeta) pelos anúncios da Strauch, com artes finais perfeitas. Seja qual for o verdadeiro motivo, pela consideração, o nosso obrigado!
Apesar de responder por toda a parte gerencial da Quatro Com, das atividades junto à Strauch, encontrei tempo para assessorar outras agências de publicidade locais, entre elas, a Gonzalo & Angel Publicitários Associados ( que mais tarde se chamou Publicitários Associados) e a Propaganda Objetiva Ltda. Em cada uma deixei grandes amigos e inúmeras lembranças. Na agência de Gonzalo tive contato, pela primeira vez, com a publicidade versátil desenvolvida para o Grupo Pianna. Até hoje ainda me lembro do publicitário Bento Peixoto vestido de “casinha”, pronto para gravar um comercial promocional dessa empresa. A segunda vez foi na Propaganda Objetiva, quando realmente “vivi” a verba publicitária da Pianna. Lá, tive o prazer de conhecer de perto uma “piranha”, que, no bom sentido da palavra, refere-se a um equipamento rural.
De todas as grandes emoções vividas enquanto ainda era responsável pela publicidade da Strauch, a maior delas, garanto eu, foi assistir, ao vivo e em cores, o corte, no ar, feito com uma tesoura, durante o intervalo comercial do Jornal Nacional, de um VT promocional da loja, no qual havia um produto CCE (auto rádio toca-fitas) com o preço errado. Obrigada, Bira, esteja onde estiver.
Aos novatos: ser Mídia antes do advento do computador era pura emoção. A cada campanha, a gente tinha de ficar com os olhos e ouvidos colados junto aos aparelhos de rádio e TV, para ter certeza da veiculação dos comerciais programados. Até receber telefonema de cliente, no domingo à noite após o 1º intervalo do programa Fantástico, devido a erro de inserção de comercial, podia! E você tinha que resolver o problema no ato, pois os produtos comprados para aquela campanha precisavam ser vendidos rapidamente, já que eram televisores e estava próxima uma Copa do Mundo! Não é Wilton?
O início da transmissão de sinal da TV Gazeta-Canal 4, afiliada da Rede Globo, foi um marco no mercado publicitário capixaba. O 1º comercial levado ao ar, se não me falha a memória, foi um slide com uma coruja, logo apelidada de “Alexandre”, seu criador, que era a marca da Caderneta de Poupança Tamoio. Esse comercial foi inserido em todos os intervalos da programação, no dia do lançamento da emissora. Com ele, também foram veiculados slide de uma barata (loja “Baratão dos Tecidos”) e também o de um genro com um bastão correndo atrás da sogra (loja “A Casa da Sogra”). Na época, a TV Gazeta não dispunha de recursos próprios para a produção apurada de seus comerciais, o que permitia a veiculação de aberrações, sob o ponto de vista estético, sem falar sob a ótica criativa.
Assisti também toda a transformação, para melhor, da mídia jornal capixaba. Do Jornal da Cidade, sob a coordenação da saudosa Maria Nilce, até o lançamento da policromia nos jornais A Gazeta e A Tribuna.
Finalizando: vivenciei a publicidade capixaba por todos os poros. Fiz amigos em agências e em veículos de comunicação de massa. Espero não ter faltado com o respeito e a amizade com quem cruzou o meu caminho, nessa longa jornada. A todos, o meu grande carinho!

NB: Essa foi a memória de Stelamagda Coser, uma das pessoas mais agradáveis com quem tive o prazer de trabalhar na Uniarte em 1978. Sempre atenciosa e carinhosa com todos a Stela era igual aquela música de Papai Noel onde diz que "ele não se esuqece de ninguém", pois, assim era ela na Agência, não havia uma Páscoa em que ela não desse a cada dos colegas um ovo. Stela realmente era querida por todos.

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